O Lobisomem do sertão

Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste sertão e, finalmente, posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora temos aqui um lobisomem que está assustando todo mundo. Desde que ele chegou o povo da região não de fala do mardito, quase não tem falado em outra coisa; e de maneira que o povo aqui se arrepia. O lobisomem chegou numa sexta – feira 13 na noite, quando as famílias estavam jantando ou acabando de jantar. Com os gritos e com uivos, muita gente cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que gritaria era aquela. Como geralmente acontece nessas ocasiões, os homens estavam mal-humorados e não quiseram dar explicações, esbarravam propositadamente nos curiosos, pisavam-lhes os pés e não pediam desculpas, jogaram pontas de corda sujas de graxa e água benta por cima dele. Muita gente se amontoou na porta, mas ninguém teve coragem de se aproximar do lobisomem, por que um deles, percebendo essa intenção dos curiosos, de vez em quando enchia a boca de água benta e esguichava na direção da porta. Ninguém passa pela praça sem ainda parar diante daquela mutação, e de cada vez há um detalhe novo a notar. Até as velhinhas de igreja, que passam de madrugada e fazem uma curvatura discreta e se benzem. A única pessoa que ainda não rendeu a visita ao lobisomem foi o vigário, mas você sabe como ele é ranzinza, e hoje mais ainda com a idade. Em todo caso, ainda não tentou nada contra ele, e ai dele. Enquanto ficar nas censuras veladas, vamos tolerando; é um direito que ele tem. Sei que ele andou falando em castigo, mas ninguém se impressionou. O meu receio é que, quando menos esperarmos, desembarque aqui uma fera de fora, desses despachos que entendem de tudo, olhe o lobisomem por fora; por dentro, pense um pouco e comece a explicar a finalidade dele, e note que ele é diferente, peça na igreja uma estaca, um revolver de prata, um crucifixo, resma de alho e água benta. Se isso acontecer, estará quebrado o encanto e não resistirá mais lobisomem. Jobson Santana