sábado, 19 de julho de 2008
Entrevista Pingue-Pongue com Dr Eduardo Andrade.
O neurologista e psicólogo, Eduardo Andrade afirma que é preciso conhecer o funcionamento do cérebro humano para aperfeiçoar o aprendizado. Saber a hora de dedicar-se aos estudos, descobrir a melhor forma de estudar, reservar tempo para lazer e, principalmente compreender os sinais e respeitar os limites do próprio corpo. Dicas imperdíveis para os vestibulandos que se preparam para enfrentar um ano repleto de provas.
“Quem está se preparando para o vestibular, precisa aproveitar o próprio ritmo biológico”.
Jobson Santana-Como a informação se processa no cérebro, do momento em que é recebida até que seja recordada?
Eduardo Andrade-È preciso estar em condições físicas adequadas, a chamada condição homeostática ideal, ou seja, de funcionamento perfeito do organismo. Não pode encontrar-se com fome, sede, indisposto, preocupada com outras coisas, ansioso querendo ir embora, com a vontade de ir ao banheiro entre outros.
A partir daí é preciso prestar a atenção o conhecimento não será adquirido. Se a pessoa “mostra” para o cérebro que há alguma motivação para aquela informação, passa-se para o estágio de retenção temporária, quando a mensagem ficará “suspensa” no encéfalo, podendo ser consolidada ou esquecida. Nesse ponto entra a parte fundamental para os estudantes: para a comunicação ser consolidada é necessária repeti-la.
JS-O senhor acredita na eficácia da hipnose como um tratamento alternativo para aumentar a capacidade de aprendizado no ano do vestibular?
EA-Isso é bom para quem acredita. Se a pessoa tem um problema e está com ansiedade, depressão, insônia ou qualquer outro tipo de obsessão, uma terapia comportamental e cognitiva com foco naquele problema, para aquele momento da vida, com inicio, meio e fim, é válido. A psicoterapia encarada dessa forma é uma estratégia e funciona.
JS-E o famoso “branco” como isso acontece?
EA-O “branco” é muito comum em virtude da ansiedade. È muito importante que o estudante faça vários testes. Não precisa, necessariamente, fazerem simulados na escola, em cursinhos. Podem fazer em casa, marcando o tempo num despertador, celular ou até mesmo no cronômetro para a redação, por exemplo, 40 minutos. Pode pegar uma prova de qualquer vestibular e fazer simulado. Treino é necessário, diversão é diversão. Na hora da prática, tem onde buscar a informação. Agora, na hora da prova, ou até vestibular, pode existir uma carga emocional que o aluno esqueça o conteúdo estudado.
JS-Existe alguma rotina ideal para os estudos?
EA - Na verdade não há uma fórmula exata. Mas estudar em ciclos de 40 a 50 minutos com intervalos de 10 a 15 minutos funciona para muitos. Na volta dessas pausas, é importante fazer uma revisão para averiguar o que se aprendeu. È muito comum os alunos não terem certeza de ter compreendido a matéria. Simplesmente feche os olhos por alguns minutos e tente fazer uma revisão e identifique os pontos que não ficaram esclarecidos e necessite um esforço. Assim aumentará a capacidade de memorização e aprendizado.
JS - Vira e mexe surgem estudos comprovando a eficácia do café ou do chocolate como estimulantes. Esses alimentos funcionariam como um remédio para aumentar a capacidade da memória?
EA - O café, o mate e o chocolate são estimulantes naturais. Não há problema nenhum tomar um café para os estudos, salvo os exageros. É uma droga aceita mundialmente que aumenta o alerta e, com isso aumenta a capacidade de aprendizado. Mas não existe remédio que se possa tomar para melhorar a memória. È boato. Existem, sim, alguns medicamentos que aumentam a atenção, mas são considerados dopping porque também aumenta o “alerta”, o usuário fica mais ativo, irritado, diminui o sono, emagrece, cai o cabelo. Enfim, trazem uma serie de repercussões. Por isso, não é aconselhado fazer uso para melhorar a capacidade da memória. È necessário, sim a organização e montar um organograma. Definir um tempo de estudo para cada disciplina e a prioridade que dará para cada uma delas.
JS - Por que há informações que são esquecidas com o passar do tempo enquanto outras, sem qualquer importância são “arquivadas” para sempre?
EA - Isso ainda é um enigma para a ciência. È notório que a grande maioria das informações que se aprende, onde há um componente afetivo e se repete, e estuda, e retorna onde ficam retidas. Existem, de fato, informações irrelevantes que ficam absorvidas na nossa memória e outras, de uma suma importância, que são esquecidas. Isso é um mistério. Podemos “dizer” para o cérebro o que é importante através da motivação, do incentivo, da emoção. Mas no final das contas, quem determina o que é importante, ou não é o próprio cérebro (encéfalo). Se você gosta ou não gosta de uma disciplina, embora saiba, conscientemente, que aquilo é importante para passar no vestibular, estará mandando mensagem para o cérebro de que aquilo não é importante.
JS - Que dica o senhor proporciona para os alunos que acorda cedo e estuda respeitando os intervalos, sem abrir mão do lazer?
EA - Quem está se preparando para o vestibular, por exemplo, precisa aproveitar o próprio ritmo biológico para estudar. Não necessariamente estudar das sete da manhã ás cinco da tarde é o melhor para todos. Se a pessoa é geneticamente determinada para dormir tarde e acordar tarde, ela pode se levantar ás 10 horas, tomar café, e montar u m programa de estudos até ás 14 horas, fazer uma pausa para almoçar e, depois um pouco mais. Não adianta acordar ás sete da manhã e ficar sonolento para estudar, porque não retém absolutamente nada.
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